terça-feira, 19 de outubro de 2010

Meninos e poetas

Não quero os que amam como poetas
Quero os que amam como meninos.
Afaste de mim os que incendeiam as estrelas
e os que atravessam oceanos
Pois quero apenas os que seguram a minha mão
sem juramentos de amor
sem promessas de terra, céu ou inferno
Quero os que me digam não,
não vá
Quero primavera ao invés de inverno
Quero os bons tempos, bons ventos,
e bons momentos, quem sabe
Quero o doce dos lábios jovens
e também o amargo dos corações partidos
Não quero o romance dos românticos
Tampouco o cântico dos cânticos
Quero um sussurro ao pé do ouvido
Quero perder o rumo sem sair da linha reta
Quero meninos que me amem como menina
Não quero imortais que me amem como poeta.

O impronunciável

Meu olhar calado
abriu uma brecha
entre o espaço e o tempo.
E assim foi lento e
profundo o meu suspiro,
e distante foi
o eco das palavras
que não foram ditas.
Você pôs para trás
uma mecha do meu cabelo
e me fitou por um instante -
o silêncio abria
um abismo entre nós.
E estávamos sós,
você ao meu lado
calado, ainda,
ouvindo o vento.
Estávamos lentos...
Lentamente seguindo
o caminho para a distância.
Mas você então
segurou minha mão,
deu um breve sorriso e
tomou o caminho de volta.
E foi assim que todas
as palavras guardadas
e toda a ânsia desse gesto
se abateram sobre mim.